O Hino Nacional
Hoje mostrarei ser bem
patriota, já no clima do 7 de Setembro. Apresento a vocês uma minianálise do
Hino Nacional brasileiro.
Um belo hino, porém de
difícil compreensão.
A começar dos versos de
abertura: "Ouviram do Ipiranga as margens plácidas/ de um povo heróico o
brado retumbante”.
Muita gente pensa que quem
ouviu o brado retumbante foi o povo brasileiro. Mas não. O sujeito de
"ouvir", ou seja, o termo que ouviu o brado, é "as margens
plácidas”. Os versos não estão na ordem direta, por isso o sujeito não é
prontamente identificado. Mas, na ordem direta, fica mais fácil saber quem ouviu:
"As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo
heroico".
Antes que você diga que não faz sentido as
margens do Ipiranga ouvirem, pois elas não têm ouvidos, é bom entender que o
Hino Nacional é uma expressão artística, poética, por isso usa e abusa da
linguagem conotativa, que é metafórica, figurativa.
O autor da letra do hino, Joaquim Osório Duque
Estrada, quis com esses versos dizer que o grito de independência dado por dom
Pedro I ecoou às margens do Ipiranga. Mas, em vez de uma linguagem objetiva,
empregou uma simbólica, própria da poesia.
Um verso interessante, em
termos de análise, é "E o sol da liberdade em raios fúlgidos brilhou no
céu da Pátria nesse instante".
O adjetivo “fúlgido”, de uso
raro, veio do latim “fulgidus”, o mesmo que fulgente, brilhante. O verso
informa, portanto, que a nossa Independência brilhou com intensidade. E por que
o autor usou "nesse instante" e não "neste instante"?
O demonstrativo "esse" indica
passado. "Este", presente. Duque Estrada escreveu a letra em 1909, 87
anos depois da Independência. Ou seja, estava relatando um fato passado. Por
isso acertou ao empregar "nesse instante".
Outro trecho interessante:
"Se o penhor dessa igualdade conseguimos conquistar com braço forte, em
teu seio, ó liberdade, desafia o nosso peito a própria morte".
A conjunção "se"
não expressa nesse caso condição, que é o comum, e sim causa. Equivale a
“porque". Posto isso, a mensagem do verso é esta: "Porque conseguimos
conquistar com braço forte o penhor (a garantia) da igualdade, nosso peito
desafia a própria morte".
O que complica mesmo na interpretação do Hino
Nacional é o grande número de inversões. Um bom exemplo é este trecho: “Brasil,
de amor eterno seja símbolo o lábaro que ostentas estrelado”.
Antes de tudo, “lábaro” é
bandeira, e “ostentar”, no contexto, é exibir. O símbolo de amor eterno a que
se refere o verso é a nossa bandeira estrelada, como podemos ver na ordem
direta: “(Que) a bandeira estrelada que o Brasil ostenta seja símbolo de amor
eterno”.
Para finalizar esta
minianálise do Hino Nacional, mais um exemplo de inversão da ordem: “Mas, se
ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta, nem
teme quem te adora a própria morte”.
Está claro que “um filho”
não foge à luta. Mas e as outras relações? Quem ergue o quê? Quem adora a
própria morte? Só a ordem direta para esclarecer: “Se o Brasil erguer a clava
forte da justiça, verá que seus filhos não fogem à luta e que aqueles que o
adoram não temem a morte”.
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